Não é mito, o racismo em portugal é um facto








Durante anos, as pessoas negras, racializadas, ciganas e migrantes vivem diariamente as consequências racistas de um país assente em valores coloniais. Passados mais de 50 anos da descolonização dos territórios ocupados, a herança colonial das estruturas montadas continuam bastante presentes.

A luta que as comunidades marginalizadas têm vindo a fazer pelas suas vidas torna-se agora cada vez mais premente, e com isso a esquerda tem o dever e a responsabilidade de colocar nas suas agendas antifascistas a defesa da igualdade. E é importante sabermos que o racismo e o discurso de ódio em Portugal não têm origem com André Ventura, antes dele muitos outros supremacistas brancos se erguiam, com consequências trágicas como o caso do assassinato de Alcindo Monteiro em 1995.

O que o líder da extrema direita traz como inovação – que na verdade não inova nada, apenas replica o que tem acontecido pelo resto da Europa – é o seu discurso populista que aproveita o desespero e a falta de confiança das pessoas nas instituições para apelar ao ódio, dividindo ainda mais a classe trabalhadora.

Quando André Ventura surge no panorama político e ganha destaque durante as eleições autárquicas de 2017, como candidato pelo PSD, tem como bandeira de combate as pessoas ciganas, desumanizando-as e propagando mentiras e mitos sobre as suas comunidades. Perante queixas e apelos a que o PSD se distancie desse grave ataque aos direitos humanos e sociais de parte da população, o partido nada escolhe fazer.

Enquanto André Ventura tenta encontrar a cada nova eleição um grupo minoritário para direcionar o seu discurso de ódio e apelar ao pior que temos na sociedade, o PSD aproxima-se cada vez mais do discurso radical de extrema direita, limitando apoios, reduzindo garantias sociais e deixando a margem quem cá vive.

Desde 2024 que a extrema direita tem tido como bandeira de campanha o ataque às comunidades imigrantes em Portugal. Este ataque tem uma base racista, notemos que os imigrantes a quem se referem são normalmente do sul ásiatico, considerados menos civilizados, com uma cultura inferior, com hábitos violentos e com muitas outras ideias preconcebidas.

Ora, estas comunidades imigrantes são das mais vulneráveis nestes momentos: seja pelos grupos organizados de tráfico de pessoas, seja pela falta de condições de trabalho a que estão sujeitos, seja pela falta de condições de habitação dignas, ou ao que se acresce a violência crescente aos seus corpos nos últimos tempos. De acordo com dados divulgados pela agência Lusa, com base em informações da PSP e da GNR, o número de crimes de ódio em Portugal aumentou 38% em 2023 em relação a 2021.

Não entrando em derivas utilitaristas, é para estas comunidades uma injustiça notável a diferença entre a sua contribuição para a segurança social e os apoios que recebem. É a técnica da extrema direita, convencer-nos que retiram recursos que deviam ser direcionados aos ‘’portugueses’’ e não o são, a verdade é que estes recursos a que se referem são imaginários. 

Este ataque não acontece ao acaso, Portugal pode ter descolonizado, mas a colonialidade continua bem presente na sociedade portuguesa, num estado assente em instituições e estruturas inerentemente racistas, onde mesmo a  educação é feita na base da dominação.

A caracterização do outro enquanto diferente, inferior ou sub-humano radicaliza na sociedade a desumanidade total para as comunidades mais vulneráveis. Em seis anos, o partido da extrema direita cresceu de 67.826 votos para 1.345.689 votos, tornando-se numa força política cada vez mais significativa tanto na Assembleia da República como nas ruas, com ataques a antifascistas e grupos de esquerda.

Mesmo que confrontada com dados, tais como os que foram prestados pelo Polícia Judiciária, que afirmam inequivocamente que não existe uma relação entre a imigração e a criminalidade, a narrativa continua a ser utilizada e reforçada criando um clima de instabilidade e medo. A estratégia da extrema direita é clara, querem dividir a classe trabalhadora, convencendo-a de que todos os seus problemas tem origem nas pessoas imigrantes e não com a exploração pelo capital, que eles próprios sustentam.

Cabe à esquerda combater a narrativa falaciosa que é perpetuada sobre as pessoas migrantes, e a tarefa de criar e espalhar propostas assentes na solidariedade e na empatia, quando falamos numa vida digna, contamos com todas as pessoas que cá vivem.