Uma das lutas da esquerda no século XIX
Parece um disco riscado ou uma canção que passa demasiadas vezes na rádio, mas é mesmo a cassete da direita extremista: os “liberais” e os seus aliados não apreciam particularmente a educação, pois sabem que esta é a primeira arma do povo.
Quando Javier Milei assumiu a presidência da Argentina, não demorou a executar as propostas que tinha defendido durante a campanha. Cumpriu a sua palavra e extinguiu tudo o que considerava gastos desnecessários para o Estado — o Ministério da Educação foi um dos muitos que desapareceram.
Milei afirmou que o Ministério da Educação funcionava como um “Ministério da Doutrinação”, chegando a tecer duras críticas ao ministro que o antecedeu. Um discurso que já conhecíamos bem, graças a Jair Bolsonaro, e que agora regressa em força com Donald J. Trump.
Todos estes líderes da extrema-direita no continente americano partilham características muito semelhantes: um fanatismo pelo pior que o passado nos deixou, um ódio irracional a minorias étnicas e sociais, uma obsessão doentia com o que as mulheres fazem com o seu corpo, noites mal dormidas por causa da comunidade LGBTQI+, e uma incapacidade de conceber um mundo que não seja dominado por eles.
Tornou-se impossível falar de educação sem refletir sobre o papel que a extrema- direita tenta assumir neste setor fundamental da sociedade. Nos Estados Unidos da América, está em curso um corte na despesa do equivalente ao nosso Ministério da Educação, e Trump já pondera o seu encerramento. Professores são despedidos por respeitarem os pronomes escolhidos pelos seus alunos; crianças menores são procuradas dentro das escolas para serem levadas para “centros de detenção temporários”; e há incentivos às direções escolares para excluírem normas que visem a proteção de estudantes negros e latinos.
Atrevo-me a traçar o seguinte paralelismo: na Alemanha nazi, os professores que não se alinhavam com os ideais do regime autoritário eram despedidos e perseguidos. Por mera coincidência, Donald Trump incentiva o despedimento de docentes que têm a ousadia de respeitar quem se senta nas suas salas de aula. Não podemos fechar os olhos ao que temos diante de nós — estamos a caminhar para um abismo que julgávamos já ultrapassado.
Quando um político constrói a sua carreira a atacar os pilares da democracia, não podemos fingir surpresa quando o ensino é atacado. Quando alguém considera que disciplinas como a Educação para a Cidadania promovem a “ideologia de género” e atacam os “valores tradicionais”, devemos entrar em modo de alerta. O que teme esta direita reacionária? Que a escola desmonte as mentiras que querem propagar?