Eleições à vista!








A originalidade de termos um Primeiro-Ministro em acumulação foi motivo de admiração geral: o país ficou admirado porque julgava ter um Primeiro-Ministro em exclusivo; já o Primeiro-Ministro admirou-se com isso ser um escândalo nacional. Self-made Primeiro-Ministro não consegue largar a sua veia empreendedora, se sai da mão dele a empresa, logo passa para a mão da esposa. Se é a mãe a passar, vai para as mãos dos filhos para não se incomodar mais nenhuma casa, e o pai fica enternecido com os jovens infantes que já se mostram rijos no mundo empresarial. E assim se lança o país em eleições, porque há um Primeiro-Ministro que não se satisfaz só com essa função.

As eleições chegam mais cedo do que o previsto, mas não deixam de vir em boa hora: mais cedo vem a possibilidade de nos livrarmos deste governo! Das promessas do passado, já sabemos, dirão que não tiveram tempo para pôr em prática o plano completo. Mas o plano que até agora foi posto em prática, já é o suficiente para os querermos ver pelas costas! O custo da habitação continuou a subir apressado, com os estrangeiros ricos a agradecerem a política do governo. Os serviços de saúde ficaram pior e pior, com a Ministra da Saúde a acender uma velinha aos santos por sair dos holofotes porque outro escândalo veio substituir os inúmeros de sua autoria – e até aproveitou esse pequeno descanso para prometer mais PPP (Parcerias Público-Privado) para enriquecer os bolsos dos gananciosos grupos privados, os únicos que melhoraram a saúde no último ano. As escolas continuam com professores a menos para os alunos que têm e auxiliares ainda em número mais escasso. A Justiça só não está mais lenta porque isso violaria as regras da Física e colocaria o universo à beira do colapso. Aproveitando as palavras do transladado Eça: “Este governo não há-de cair, porque não é um edifício. Tem que sair com benzina, porque é uma nódoa”. Sirvam as eleições para essa limpeza!

Uma campanha eleitoral para responder aos problemas reais das pessoas que fazem este país é a chave para abrir a porta à alternativa. Os problemas não são as pessoas reais, são quem vive à custa delas. As pessoas transgénero são reais, os milionários não deviam ser, tradução livre da campanha do Die Linke que é o exemplo deste paradigma. As trabalhadoras e trabalhadores são reais, a exploração e a falta de direitos não deveriam ser. Os jovens são reais, a precariedade não devia ser. As mulheres são reais, a violência de género não devia ser. A necessidade de casas a preços que se consiga pagar é real, a proliferação de casas de luxo não devia ser. A urgência de cuidados de saúde de qualidade é real, os avultadíssimos lucros dos grupos privados da saúde não deviam ser. Os alunos e alunas são reais, a falta de professores e auxiliares não devia ser. Os imigrantes são reais, a xenofobia não devia ser. O amor é real, a homofobia não devia ser. A ciência é real, o negacionismo não devia ser.

Até às eleições (que ainda não são certeza absoluta) teremos campanhas rasteiras e sujas, a fuga à discussão da vida real, o reino dos aprendizes de Maquiavel com tactismos políticos e partidários de contrabando. Saibamos colocar no centro do debate o que nunca dele deve sair: a vida real das pessoas e como ela pode e deve ser melhor.