Produzir conteúdo é cringe?








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É inegável que as redes sociais se transformaram, de forma cada vez mais evidente, num espaço fértil para a proliferação de teorias da conspiração e discursos de ódio. Esse fenómeno não acontece por acaso: os grandes senhores da ultra-elite, pais do tecnofeudalismo, exploram estas dinâmicas como ferramenta de manipulação de massas. Enquanto maximizam os seus lucros, aprofundam também o seu domínio político, assegurando que as estruturas de poder permanecem sob o seu controlo. É um modelo perverso, mas altamente lucrativo—prendem-nos aos ecrãs, extraem valor da nossa atenção e, simultaneamente, moldam o debate público de forma a perpetuar a sua influência e de modo a garantir que são bajulados.

Neste cenário, multiplicam-se os estudos académicos que alertam para os riscos devastadores da dependência das redes sociais. Investigadores de diversas áreas têm demonstrado, com dados concretos, como os algoritmos e os elementos gráficos dessas plataformas afetam o nosso bem-estar cognitivo, comprometendo a capacidade de concentração, a saúde mental e até o pensamento crítico. O impacto é particularmente alarmante nas gerações mais jovens, que apresentam níveis de dependência sem precedentes, ultrapassando qualquer limiar aceitável de preocupação.

No entanto, reconhecer estes problemas não significa que devamos simplesmente abandonar as redes sociais e atirar a tolha ao chão. Pelo contrário, se é ali que o povo está, então é também ali que os marxistas devem estar. Deixar este espaço entregue à extrema-direita e ao neoliberalismo hegemónico é um erro de proporções imensuráveis. A luta política não se trava apenas nas ruas, nos locais de trabalho ou nas universidades; trava-se também no território digital, onde cada vez mais milhões de pessoas formam as suas opiniões e constroem as suas perceções do mundo.

É fundamental que a esquerda perca a vergonha de produzir conteúdo para as redes sociais. Se recusarmos esse campo de batalha por medo do ridículo ou do ataque organizado da direita, deixamos o terreno livre para que a narrativa reacionária se instale sem o mínimo dos mínimos das resistências. Criar conteúdos acessíveis, pedagógicos e combativos não significa ceder ao esvaziamento do discurso ou cair no simplismo, mas sim utilizar todas as ferramentas disponíveis para fazer frente à ofensiva ideológica que se desenrola diante dos nossos olhos – e que nos preocupa a todos.

As recentes eleições na Alemanha são um exemplo claro de como a esquerda precisa de aprender a usar as redes sociais de forma mais eficaz. A extrema-direita tem crescido em parte porque soube ocupar esses espaços (com um evidente empurrão dos donos dos mesmos), explorando medos e ressentimentos através de uma linguagem apelativa e de fácil circulação.

Uma excelente referência deste uso estratégico das redes sociais vem de figuras como Erika Hilton, que dá lições à esquerda de como esta pode ocupar o espaço digital sem abrir mão do conteúdo político e do compromisso com a transformação social. A sua presença nas redes não se limita a denúncias e reações; pelo contrário, a Erika utiliza essas plataformas para mobilizar e radicalizar aqueles que, de outra forma, talvez nunca tivessem contacto com a luta de classes. Não basta partilhar videos dela no instagram – por muito incriveis que sejam – urge que as e os ativistas os produzam. Se, nas primeiras tentativas, a nossa atuação soar forçada ou pouco eficaz, devemos persistir e continuar a persistir. O socialismo sempre foi sobre tentativas, sobre aprendizagem coletiva e sobre a coragem de recomeçar. Se queremos que haja futuro, temos de disputar o presente digital.