©Pau Casals
Listar as políticas de Trump é uma tarefa larga tal a contrarrevolução que representa. Contrarrevolução em relação às conquistas democráticas e sociais do pós 2ª guerra mundial.
Apesar da inconsequência anterior na aplicação do Acordo de Paris, abandona-o, nega a crise climática e assume ampliar a economia do carbono, e o extrativismo máximo dentro e fora dos EUA. Apesar das soberanias dos Estados, pretende colónias em algumas áreas tais como Gronelândia, Panamá, Gaza, e o mais que se verá. Apesar das fraquezas do Direito Internacional e da ONU, aboliu esse entendimento e faz regressar o poder das potências nas suas esferas de influência, mostrando assim compreender e partilhar a geopolítica de Putin. Manipula a NATO a quem reserva um papal de tapete dos seus interesses sem conversas de multilateralismo. Apesar de um nível insuportável de arsenais bélicos, multiplica a corrida aos armamentos e faz da ida a Marte a bandeira da militarização do espaço. Apesar do emprego elevado, assenta a agenda no inimigo interno e expulsa imigrantes em massa. Apesar da OMC e da propaganda da globalização, rompe com os tratados de comércio livre e estabelece tarifas para produtos importados com um critério de conveniência política. Apesar da retórica contra a elite liberal, leva os super-ricos para a Casa Branca e desagrava ainda mais os seus impostos.
A agenda trumpista é tão vasta que legisla a decreto com a fúria da vingança burguesa. Fecha agências da administração para educação e apoio a mães sós ou comunidades LGBTQ. Decreta que não há outros géneros que não sejam masculino e feminino. Patrocina abertamente as gigantes tecnológicas e através delas procura padrões de domínio mundial das economias, em disputa com a China. O uso e abuso de linguagem grosseira e reacionária anda a par com uma suposta exaltação da América, afinal da América racista branca, machista e xenófoba. Aliás, tudo o que não se enquadrar neste funil de barbárie é woke, o insulto à democracia. Os factos não interessam, apenas as conspirações das redes sociais erigidas em narrativa de estado. O golpista do Capitólio dá agora livre curso a polícias e milícias para perseguições internas. O Macarthismo está de volta. Basta ver os alertas dos meios artísticos. A democracia americana é um sistema pouco democrático e está agora em processo de coma induzido.
Trump esvaziou o Partido Republicano para criar o MAGA e fará o mesmo à democracia, se o povo e todos os democratas o permitirem. Pode achar-se grotesco mudar o nome ao golfo do México mas isso é uma distracção para néscios. O horror está à frente dos olhos com a deportação dos palestinianos de Gaza.
Importa perceber que o ascenso ultraconservador, e mesmo neofascista em vários países, resultou como aproveitamento da revolta pelas políticas cruéis de austeridade que os governos neoliberais lançaram mão na crise do capitalismo de 2007/8, Essas forças já vinham a marcar terreno e tiveram aí o seu grande trampolim eleitoral. A narrativa de que os emigrantes são os culpados da crise e das dificuldades sociais é a ponta de lança do seu nacionalismo reacionário e ganhou, infelizmente, grande base social.
Para as forças reacionárias em todo o lado, o programa contrarrevolucionário de Trump passou a ser o programa máximo das suas estratégias e esse impulso converte-se no novo patamar de propaganda. É importante que as forças de esquerda e progressistas entendam que a luta ideológica fundamental passou a ser dirigida ao neofascismo que ataca o género e a raça, que promove a supremacia do chauvinismo nacional e a mitologia da reconquista cristã. A democracia iliberal significa apenas que querem maiorias enquanto as disputarem pelo voto mas esvaziam as liberdades dos cidadãos.
O neoliberalismo abriu o caminho ao neofascismo que lhe destrói os códigos do comércio livre, do funcionamento do mercado sem ajudas do Estado, da intervenção aberta do governo para proteger os oligopólios. Seguir o modelo privatizador, ou o offshore fiscal, não identifica em exclusivo o neoliberalismo, mas simplesmente a base pretendida da burguesia. A curiosidade humorística de Joe Biden de descobrir que a América de hoje é “uma oligarquia” cumpre o seu papel. Que diferencia essa oligarquia de outras a oriente?
Quem vê um Trump, vê todos os outros que pretendem fazer o assalto à União Europeia e mobilizar o continente para a guerra. Os atuais presidentes de Comissão e Conselho da UE já estão a antecipar o curso com o salto astronómico do investimento militar.