A Pegada de Outubro








Passou mais um aniversário da Revolução de Outubro. Leva 108 anos de inspiração para os explorados e oprimidos pelo capitalismo. Qual é a atualidade desta memória em tempos de avanço do fascismo internacional e de regimes autoritários? Toda. Não só porque a revolução resultou de uma insurreição vitoriosa contra um regime autocrático e bárbaro mas, sobretudo, porque sempre educou as vanguardas dos trabalhadores na ideia de que é possível conquistar o poder popular, o poder dos trabalhadores e de outros setores populares prejudicados pelo capitalismo e pelas guerras imperialistas. É certo que essa Revolução foi destruída por dentro, pela falta de democracia, pela falta de modernidade social e tecnológica, entre outros fatores. Esses fatores internos deram cabo do socialismo e conseguiram aquilo que nem a guerra civil nem a invasão nazi tinham logrado. Mas a destruição da Revolução não lhe retira o pioneirismo e a contínua circunstância de ter marcado todo o século XX, grande parte dele como contraponto às potências imperialistas, ávidas em extinguir o mau exemplo que constituía a União Soviética para os estados capitalistas. O facto de a Revolução de Outubro estar ligada ao legado teórico de Lénine não só imortalizou a inteligência da estratégia do partido bolchevique como deixou ensinamentos universais para o movimento socialista. Ensinamentos que hoje podemos ter em conta, sem dogmatismos absurdos, como aliás formulava Lénine. Lénine contrariou o que chamava de "marxistas oficiais", tal como hoje o diríamos dos "leninistas oficiais". Um desses ensinamentos apontava para fazer alianças sociais e políticas de modo a combater um inimigo poderoso mas sem que as bandeiras da vanguarda ficassem para trás. Hoje, a batalha pela democracia contra o ascenso do neofascismo pode conduzir a patamares de convergência muito díspares, com variados setores político-sociais, mas isso não invalida a perspetiva do socialismo. Diz-se que manter uma radicalidade plausível no momento atual anula convergências com o centrismo. mas isso é falso. O centrismo só converge por necessidade, não por qualquer simpatia, como, aliás, a "geringonça" se encarregou de demonstrar. A contraprova pode ser aferida pela depreciação que o PS faz ao Livre. Escrevi acima expressamente vanguardas sabendo que é uma palavra que gera pouca ternura. A existência de vanguardas, em todas as áreas, é um facto comprovado. É quase galileico dizer que as vanguardas se movem. Não quer dizer que um partido seja "a" vanguarda ou que de tal deva autoproclamar. Isso deu mau resultado, como é bem sabido. É essa distinção sobre o papel de vanguardas que permite ter ao mesmo tempo um programa, a perspetiva socialista, e uma plataforma de ação, a tática que pode declinar objetivos democráticos vários. Nenhuma outra revolução trouxe os caboucos do anticapitalismo como em Outubro. Não é comparável com repetições tardias do modelo soviético. E muito menos é comparável com "revoluções culturais" ou agitações do tipo do Maio de 68. As revoluções e as contrarrevoluções acontecem em precisos momentos da história, fruto de contradições objetivas do regime económico social, ou até de situações extremas de guerra. As vanguardas não escolhem revoluções. O que se pede às vanguardas é que as disputem a favor do socialismo quando tiver lugar essa iniciativa independente das massas. Foi o que falhou em Portugal no período anterior ao 25 de Novembro de 1975. Faltaram vanguardas civis, consequentes e unidas. Estive em 75 no secretariado das Comissões de Trabalhadores e Comissões de Moradores de Lisboa e fui testemunha do sectarismo que grassava no movimento popular, muito espontâneo e inorgânico, embora pujante, que se constituía na sombra do MFA/“esquerda militar”, Esse processo de vanguarda näo teve suporte político-partidário significativo, não se podia contar com o PCP para isso, para que se tentasse o "assalto dos cèus", na bela expressão de Marx sobre a Comuna de Paris.

Passou mais um aniversário da Revolução de Outubro. Leva 108 anos de inspiração para os explorados e oprimidos pelo capitalismo. Qual é a atualidade desta memória em tempos de avanço do fascismo internacional e de regimes autoritários? Toda.

Não só porque a revolução resultou de uma insurreição vitoriosa contra um regime autocrático e bárbaro mas, sobretudo, porque sempre educou as vanguardas dos trabalhadores na ideia de que é possível conquistar o poder popular, o poder dos trabalhadores e de outros setores populares prejudicados pelo capitalismo e pelas guerras imperialistas. É certo que essa Revolução foi destruída por dentro, pela falta de democracia, pela falta de modernidade social e tecnológica, entre outros fatores. Esses fatores internos deram cabo do socialismo e conseguiram aquilo que nem a guerra civil nem a invasão nazi tinham logrado. Mas a destruição da Revolução não lhe retira o pioneirismo e a contínua circunstância de ter marcado todo o século XX, grande parte dele como contraponto às potências imperialistas, ávidas em extinguir o mau exemplo que constituía a União Soviética para os estados capitalistas. O facto de a Revolução de Outubro estar ligada ao legado teórico de Lénine não só imortalizou a inteligência da estratégia do partido bolchevique como deixou ensinamentos universais para o movimento socialista. Ensinamentos que hoje podemos ter em conta, sem dogmatismos absurdos, como aliás formulava Lénine. Lénine contrariou o que chamava de “marxistas oficiais”, tal como hoje o diríamos dos “leninistas oficiais”. 

Um desses ensinamentos apontava para fazer alianças sociais e políticas de modo a combater um inimigo poderoso mas sem que as bandeiras da vanguarda ficassem para trás. Hoje, a batalha pela democracia contra o ascenso do neofascismo pode conduzir a patamares de convergência muito díspares, com variados setores político-sociais, mas isso não invalida a perspetiva do socialismo. Diz-se que manter uma radicalidade plausível no momento atual anula convergências com o centrismo. mas isso é falso. O centrismo só converge por necessidade, não por qualquer simpatia, como, aliás, a “geringonça” se encarregou de demonstrar. A contraprova pode ser aferida pela depreciação que o PS faz ao Livre. Escrevi acima expressamente vanguardas sabendo que é uma palavra que gera pouca ternura. A existência de vanguardas, em todas as áreas, é um facto comprovado. É quase galileico dizer que as vanguardas se movem. Não quer dizer que um partido seja “a” vanguarda ou que de tal deva autoproclamar. Isso deu mau resultado, como é bem sabido.

É essa distinção sobre o papel de vanguardas que permite ter ao mesmo tempo um programa, a perspetiva socialista, e uma plataforma de ação, a tática que pode declinar objetivos democráticos vários. Nenhuma outra revolução trouxe os caboucos do anticapitalismo como em Outubro. Não é comparável com repetições tardias do modelo soviético. E  muito menos é comparável com “revoluções culturais” ou agitações do tipo do Maio de 68. 

As revoluções e as contrarrevoluções acontecem em precisos momentos da história, fruto de contradições objetivas do regime económico social, ou até de situações extremas de guerra. As vanguardas não escolhem revoluções. O que se pede às vanguardas é que as disputem a favor do socialismo quando tiver lugar essa iniciativa independente das massas. Foi o que falhou em Portugal no período anterior ao 25 de Novembro de 1975. Faltaram vanguardas civis, consequentes e unidas. Estive em 75 no secretariado das Comissões de Trabalhadores e Comissões de Moradores de Lisboa e fui testemunha do sectarismo que grassava no movimento popular, muito espontâneo e inorgânico, embora pujante, que se constituía na sombra do MFA/“esquerda militar”, Esse processo de vanguarda näo teve  suporte político-partidário significativo, não se podia contar com o PCP para isso, para que se tentasse o “assalto dos cèus”, na bela expressão de Marx sobre a Comuna de Paris.