Um novo Governo já doente








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© TIAGO PETINGA

O Governo da AD apresentou, na tarde de 4 de junho, o seu novo Governo. À exceção de um ou outro nome, mantém praticamente a equipa anterior. Entre os nomes que figuram, voltamos a contar com Ana Paula Martins na pasta da Saúde. No meio do turbilhão onde a política se faz entre o escândalo e a gritaria, a verdade é que a pior ministra da anterior Legislatura será novamente empossada dia 5 de junho por parte do Presidente da República.

A Saúde está sob fogo há décadas. Desde a década de ‘90 que a estratégia de ataque ao Serviço Nacional de Saúde tinha conhecido o seu início com os governos de Cavaco Silva. A tática era simples: não conseguindo alterar a natureza universalista do SNS pautada na Constituição, as sucessivas Leis de Bases da Saúde foram sendo ajustadas quase sempre à medida dos interesses privados.

A Direita não desiste do seu projeto de desmantelamento do Estado Social tal como foi pensado e erguido após o 25 de Abril. A ideia de que existem áreas da nossa vida coletiva não premiáveis à especulação nem à lógica do lucro é um curto-circuito na cabeça de qualquer liberal. Não precisamos de procurar muitas referências de conotados pensadores à esquerda sobre o assunto, basta retrocedermos alguns anos e dar de caras com as declarações – que se tornaram “famosas” – da então Presidente do Grupo privado Luz Saúde Isabel Vaz. Presenteou-nos com o seguinte: “Melhor negócio que o da saúde, só o das armas”.

A frase, nos dias de hoje, ganha ainda mais impacto. Temos um Serviço Nacional de Saúde esfrangalhado, com sucessivos Orçamentos do Estado que, enquanto aumentam a percentagem para encher os bolsos dos privados vão, ao mesmo tempo, depenando o serviço público e tornando-o cada vez menos eficiente. Crise aguda no INEM, falta de contratação de médicos e proliferação da precariedade. É uma fórmula de gestão usada em muitos países europeus com vontades gananciosas de privatização de serviços públicos. Quando já ninguém acredita que o público cumpre, lá vem o privado “salvar”.

A derrota das esquerdas e, em particular, o resultado crítico do Bloco de Esquerda, deve servir de alarme para quem, nos últimos anos, se tem levantado em defesa da Constituição e dos Serviços Públicos. Se durante o período da Troika e da própria “Geringonça”, foi preciso sair à rua em defesa do SNS, hoje é um imperativo para defender a Democracia das mãos da extrema-direita. O caminho está mais difícil e só com imaginação de reinventar novas formas de luta e de trabalho coletivo conseguiremos voltar a construir, em torno de um projeto socialista, um horizonte de esperança.