O terror de Trump alastra pelo globo. O ataque a direitos fundamentais, liberdades e garantias, é acompanhado pelo combate à ciência, a negação de alterações climáticas e a terraplanagem da cooperação entre povos, e promove uma recessão à escala mundial. É dantesco e continuará a mostrar ainda situações piores do que as que vimos até agora. Sabíamos dos perigos, avisamos para o que viria e, no entanto, porque não nos podemos ficar pelo “nós tínhamos dito que seria assim”?
As crises do capitalismo foram muitas vezes vistas como oportunidades. “Nunca desperdices uma boa crise” é uma frase cunhada ainda há semanas pela Presidente da Comissão Europeia e expõe o estado de espírito. Mas, mesmo à esquerda, há quem deseje ardentemente uma crise do capitalismo na expectativa que isso desencadeie uma reação da classe trabalhadora e uma mudança da relação de forças. Há exemplos históricos para os dois tipos de aproveitamento de uma crise mas, infelizmente, vemos mais desfechos que resultaram em crescimento da exploração do que na emancipação. Por isso, temos de ser mais finos na análise dar nova vitória à estatística.
Eu parto de uma abordagem mais pessimista: uma crise aumenta desemprego e multiplica as dificuldades nas vidas proletárias pelo que uma potencial desmobilização da capacidade de resistência é mais uma ameaça que se soma. Marx falava do exército de desempregados e a análise está atual. Nos dias de hoje, a recessão que se agiganta é acompanhada por uma brutal crise na habitação e uma gigantesca desigualdade na riqueza, e anda de mão dada com o neofascismo. Mas é desse ponto de partida que tocamos a rebate: é neste momento da história, em que as nossas ações poderão ter mais impacto.
Os ataques constantes ao Bloco de Esquerda são a demonstração da força que carregamos no seio. É a nossa capacidade de resistência e de emancipação que, independentemente do nosso peso eleitoral pontual, metem medo estrutural às elites. Somo sementes de esperança e essa força assusta quem nos quer vergar. Não nos metem medo.
Termino com dois exemplos de acusações que são atiradas repetidamente contra o Bloco e que provam a tese que expus: controlo das rendas e a rejeição da corrida armamentista. Ouvimos insistentemente, qual lavagem contínua de ideias, que o controlo de rendas é impossível, que é uma negação do mercado e que os efeitos seriam desastroso – mas uma mentira repetida muitas vezes não se torna verdade e agora está demostrado que a criação de tetos máximos nas rendas está implementado em várias cidades/países e tem um impacto positivo no acesso à habitação (que o digam os neerlandeses!). Por outro lado, o coro armamentista chega até ao Livre, o que comprova a força da narrativa, mas mais uma vez não bate certo com a realidade: não faltam armas, mísseis e material militar na União Europeia, faltam é políticas de cooperação. Deixem o dinheiro público em paz que faz falta para termos serviços públicos de qualidade e investimento público que construa um futuro melhor.
Somos essa força, carregamos esse futuro, faremos essa diferença.