Rebeldes com razão: Marxismo no movimento estudantil

Sempre se ouviu pelas bocas alheias que o tempo é o real mestre, mas diria com  toda a certeza que se reflete que o tempo parece fazer esquecer a onda de lutas que  deveriam acompanhar-nos, ser o nosso presente. Onde estará a garra que tanto se refletia  nas lutas do passado? Deveremos temer o futuro ou seguir o exemplo dos muitos que nos  abriram o caminho e ganhar coragem para o que nos espera futuramente?

Se a teoria marxista tem como principal objetivo implementar a igualdade e  renegar a opressão desenvolvida pelo sistema capitalista, essa mesma perspetiva influencia diretamente o movimento estudantil. Torna-se um grande movimento como  também um importante instrumento de resistência a políticas que ameaçam o ensino em  várias vertentes: defendem as melhorias na educação e igualmente nas suas instalações,  a gratuitidade do mesmo, garantia de condições aos estudantes, etc. Alinha-se aos ideias  lançados por Marx, procurando assim uma sociedade mais igualitária, com as  possibilidades de terem as mesmas oportunidades e dessa maneira combater a opressão.

Relembremos episódios tão marcantes para a história do movimento estudantil  que traçaram de forma tão notável algumas das conquistas para o ensino. Começando  pelas tão conhecidas e longas sete semanas do ano de 1968, em França, onde se fizeram  ouvir palavras de ordem numa manifestação que mais tarde iria ser conhecida como “maio de 68”. Começam com a força e a incomparável febre dos estudantes que se estendem pelo país em forma de repúdio e contestação à violência policial e todo o seu  descontentamento face ao ensino: exigiam medidas face à rigidez na educação, exigiam  liberdade, mas acima de tudo a igualdade e justiça. Toda a euforia dos estudantes  franceses, mais tarde traria consigo a bravura de mais de 10 milhões de trabalhadores que acaba por desencadear a maior paralisação do país, a maior greve antes vista. Deixaram  os seus locais de trabalho, encheram as ruas, protestavam de mãos dadas aos milhares de jovens, exigindo melhorias nos seus postos de trabalho, aumentos nos salários, menos  horas de trabalho e queriam, de forma ativa, envolver-se nas decisões económicas e  políticas do seu trabalho, afirmando que os patrões e as elites reprimiam os trabalhadores e que queriam ter mais controle no que lhes dizia respeito: as decisões que podiam afetar  a sua carreira profissional e as suas vidas. 

Que não caia no esquecimento a manifestação realizada durante o terrível período  que foi a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, intitulada de “Diretas Já”. O principal objetivo estipulado era reivindicar o método que havia sido abolido depois do  golpe militar: o método direto de eleição para a presidência, que fez com que as eleições passassem a ser de forma indireta e controladas, obviamente, pelas forças do regime, onde  os presidentes eram discutidos e decididos pelo Congresso Nacional. O papel dos  estudantes foi crucial, devido à imensa mobilização que conseguiram obter, relembrando  protestos onde participaram anteriores àquele. Foi com a UNE (União Nacional dos  Estudantes) que conseguiram articular estratégias de mobilização, espalhar informações importantes e ajudaram de forma bastante eminente a adesão do restante povo brasileiro  ao movimento. Foi essa rebelião que deixou com que os estudantes se destacassem como pioneiros na luta pela reconquista da democracia no Brasil. Mais uma vez, as revoltas em  cima de um sistema repressivo criaram, como consequência, um ambiente de resistência.  Um ambiente de resistência cultural, política e estudantil em oposição ao autoritarismo. 

Protestos tão marcantes e inesquecíveis que provaram a determinação e a presença ativa dos jovens na formação de consciência de classe, como também foram capazes de  consolidar os movimentos estudantis como um “sujeito” político relevante. Fizeram e  ainda nos fazem ver que as lutas serão sempre a única forma de reivindicar os nossos  direitos, mas provam também que ainda são as mesmas, o muito que mudou ainda não é  o suficiente, o sentimento de insaciedade ainda é gritante. Os mesmos que ajudaram na  integração de lutas como as de género, raça e sexualidade à luta de classes, são os mesmos  que estão encarregues de as levar consigo avante. 

Estamos encarregues de levar o movimento marxista e toda a história como um  guia para superar os desafios que nos são colocados diariamente, estamos encarregues de  acabar com a propina, de lutar pelo fim da violência de género nas faculdades, e lutar  contra todas as formas de discriminação, até aquelas que são mais despercebidas: Exigir  mais residências publicas, exigir o congelamento do prato de ação social, exigir mais  psicólogos, etc.

Pelo nosso futuro, é essencial que nos organizemos, relembrando os frutos que  renderam diante a organização dos estudantes, no passado. Devemos ocupar as escolas,  universidades e as ruas e deixar bem assente que ainda somos muitos e que nos lembramos  de todas as ditaduras e retrocessos do passado e não vamos aceitar cair, novamente, nas  opressões do sistema. Não haverá nenhuma tentativa de imposição de inseguranças que  nos fará recuar, juntar-nos-emos para exigir um futuro longe das mãos dos governos de  direita que sustentam a desigualdade e nos impõe o medo. Façamos com que as nossas  vozes, resistência e luta provem que a memória nos lembra como tempo, afinal, é mestre.